terça-feira, 16 de março de 2010

O “Ensino à distância” e o Estado distante da educação

O chamado Ensino a distância tem-se tornado a mais recente panacéia para a desastrosa situação da Educação no Brasil e muito em particular no estado de São Paulo. À falta de investimentos, de planejamento e de uma política educacional digna do nome resultou, principalmente nos últimos 20 anos, numa escola fundamental e média sem infraestrutura, sem organização e com professores com péssimas condições de trabalho e assalariamento, além de impossibilitados de crescimento substancial do seu conhecimento científico e cultural.
As Universidades públicas paulistas (UNESP, UNICAMP, USP) tiveram acrescidos os números de vagas e de cursos, mas o mesmo não acontece com o número de servidores, de professores e, principalmente de destinação orçamentária. Sem recursos para crescer resta aumentar a exploração sobre o trabalho de professores e funcionários e precarizar as relações de trabalho de trabalho. Mesmo assim, essas três universidades continuam a produzir e a difundir conhecimento universal, que é a sua razão de ser, formando quadros profissionais em todas as áreas e setores. Mas apenas 1 a cada 20 jovens que se forma no Ensino Médio atravessa os muros dessas Universidades. Resultado do cenário exposto: a maior parte de nossos jovens é formada de maneira insuficiente por conta da situação da Escola fundamental e média e apenas uma minúscula parte chega a Universidade pública. O porquê também já foi dito: falta investimento, falta planejamento, falta política governamental.
Diante do descalabro pelo qual é o responsável, o Governo do estado encontra agora uma pretensa “solução”: o Ensino a distância, cuja grande vantagem é ser barata, além de muito possivelmente oferecer algum reforço no orçamento pessoal de uns e outros. Com o tal “Ensino à distância”, diz-se, poderão ser diplomadas milhares de pessoas em cursos “superiores”, apenas pelo uso de novas tecnologias de informação e comunicação. Nada como a “modernidade” (ou “pósmodernidade”?)!
Quem seriam os beneficiados por essa idéia genial? Estudantes pobres que quisessem firmemente fazer um curso superior para garantir um padrão mínimo de subsistência, pois esses cursos a distancia não serão oferecidos aos filhos dos ricos que fazem cursos presenciais em áreas que demandam laboratório e experimentação permanente
O curso pensado para dar início a essa cruzada à distancia foi exatamente o de Pedagogia, aquele forma educadores para as nossas crianças e adolescentes, pois diferente de gado, que necessita da presença, nossas crianças e suas necessidades podem ser conhecidas “à distância”. Mas à “distância” pode se conseguir informação, mas não se obtém formação, não se obtém cultura, não se obtém capacidade de interagir socialmente e de mediar o processo de ensino / aprendizagem.
A crueldade dessa política não para por aí. Diante da propalada, mas não demonstrada carência de professores formados para o Ensino Médio nas áreas de Ciências Sociais e Filosofia pretende-se que sejam ministrados cursos de Licenciatura à distância para os bacharéis já formados, esquecendo-se de dois elementos: o fim de muitas licenciaturas derivou de políticas governamentais equivocadas, que haviam retirado essas disciplinas da grade escolar; e a profissão de professor foi tornada pouquíssima atraente pela situação já lembrada. Para completar a receita aparece a idéia de se oferecer um curso de especialização à distância (pós-graduação latu sensu) nas grandes áreas do saber, a fim de aumentar a qualificação profissional do professorado. Se não fosse um ato de uma longa tragédia, seria muito de rir. Deixa-se a educação e cultura jogada às traças, subestima-se a necessidade da inovação cientifica e tecnologia e depois se tenta tapar o sol com peneira rasgada.

Marcos Del Roio / prof. de Ciências Políticas da UNESP – FFC

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